16/05/2012

LEMBRANÇAS

É um facto,
que quando somos crianças
há coisas que acontecem
que depois pela vida fora
nunca mais se esquecem...

Por exemplo:
Por muitos anos que eu possa viver
nunca mais irei esquecer
o dia em que eu entrei para a escola...
Sapatinho no pé
batinha branca,
um caderno e um lápis, numa pequena sacola...

Oh! Lembro-me, como se tivesse sido ontem!

Rezingando, choramingando
levado pela mão de minha mãe
lá fui eu a caminho...
Vestido de anjinho...!

Naquele tempo
em que a miséria inundava as aldeias
sufocando as pessoas no seu abraço...
Todo o mundo passava fome
andava roto
e de pé descalço!

Por isso
quando eu cheguei e olhei
para aquele grupo de meninos e meninas
de aspecto miserável e olhar assustado
Lembro-me, de me ter sentido como que deslocado...
Talvez envergonhado...
Porque entre todos
eu era o único, que vinha calçado!

Senti que os meus futuros companheiros
me olhavam, como se eu fosse um previlegiado...
O que me deixava visivelmente atrapalhado!

Principalmente, porque isso não era verdade!
Eu era igual a eles todos
sofria a mesma realidade...
Quanto aos sapatos...
Eles eram apenas uma pequena vaidade dos meus pais...
Uma mariquice, a que eu não ligava
e que no fim, só me atrapalhava...!

Primeiro, porque eu não estava acostumado a essas peneiras...
E depois, porque eram um empecilho, para as minhas bricadeiras!

Eu gostava era de correr descalço...
Subir às arvores
chapinhar nas poças de água
dar pontapés nas bolas de trapo...
Ora, de sapatinho calçado
eu sentia-me, um pequeno animal acorrentado...!

Então, a solução
foi espontânea e natural
E não fez mal...

Quando à tardinha cheguei a casa
vinha descalço, sujo e molhado...
Na mão, trazia os sapatinhos
engraxadinhos
como se não tivessem sido estreados...!

Tudo se passou a sete de Outubro
de mil novecentos e cinquenta e um
dia igual a este
nunca mais houve nenhum!

José Gago




















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