09/04/2012

POR ESTE MEU POVO ACIMA

Por este eu povo acima
fiz do sonho o meu caminho
sobre cardos e giestas
em trilhos de pão e vinho...
Abri janelas de bruma
ergui castelos de espuma
naveguei marés de linho!

Por este meu povo acima
colhi medronhos e medos
escondi o riso e o pranto
no baú dos meus segredos...
Desci ao fundo do mito
e toquei o infinito
com a ponta dos meus dedos!

Por este meu povo acima
fui poeta sem esperar
escrevi poemas molhados
p'los meus olhos a chorar...
Bebi copos de lonjura
em sonhos de água pura
nascidos além do mar!

Por este meu povo acima
verdejei trigais de esperança
desnudei meu peito ao vento
que anunciava a mudança...
Prendi na noite a saudade
e beijei a Liberdade
como quem beija uma criança!

Por este meu povo acima
inventei rios a correr
plantei lírios e abraços
numa terra a florescer...
Rasei os meus olhos d'água
e bebi goles de mágoa
nos cravos que vi morrer!

Por este meu povo acima
beijei lábios de alecrim
prendi com laços de amor
a raiva dentro de mim...
Espalhei sementes de vida
na campina ressequida
que eu lavrei até ao fim!

Por este meu povo acima
fui soldado sem razão
tive um cavalo sem cor
e uma espingarda na mão...
No meu colchão de capim
adormeci a dizer sim
acordei a dizer NÃO!

José Gago

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.